segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sobre o espaço e sobre nós




Hoje iniciamos um projeto que surgiu em cada um de nós (e de vocês leitores também) provavelmente bem no início de nossa existência, com os nossos primeiros olhares, com nossas primeiras palavras. Saímos por aí exploradores da vida, experimentando cada sensação, absorvendo milhões de informações. O que fazer com essa fartura? Impossível guardar apenas para nós, então começamos a contar, espalhar tudo isso que nós fomos conhecendo para o nosso redor. Já estávamos praticando divulgação!

A partir de hoje, esse espaço é destinado para uma única atividade: divulgação (do latim divulgatio, de divulgare - fazer público, espalhar), mais especificamente divulgação de temas relacionados às Ciências Naturais. Somos quatro biólogos, com diferentes formações, mas com interesses semelhantes.


À grande mídia (impressa, eletrônica e televisiva) caberia tratar sempre com seriedade e compromisso as matérias científicas e não vendê-las para o consumo imediato. É preciso competência para sintetizar as diferentes perspectivas científicas com vistas à manutenção da utilidade e coerência do conteúdo informativo. O paleontólogo Stephen Jay Gould uma vez alertou, é necessário cuidado para não cometer o erro de na tentativa de se fazer entender, simplificar demasiadamente”. Os resultados da ciência apresentados pela mídia frequentemente são categorizados como verdades absolutas, incontestáveis: assumem um caráter dogmático, uma das razões para que se deixe de lado as inquietações em prol do conformismo. Outro problema é o grande número de sites, programas, jornais, revistas que se utilizam do ‘copia e cola’ (vulgo, ctrl-c/ctrl-v) para referenciar informações, um critério que dispensa fontes especializadas, contribuindo para o nosso analfabetismo científico. A crença em uma ciência ‘pronta e fechada’ e o pouco contato com a informação de fato científica resultam em simplificação excessiva da linguagem, desfigurando os problemas e suas possíveis implicações. Mesmo em espaços onde as informações são bem referenciadas e a linguagem é adequada, tem se tornado comum a opinião do divulgador se destacar mais que a própria informação em si. Nesses casos, surge mais um atravanco para a divulgação científica. Os leitores são filtrados, selecionados, subtraídos. O acesso que devia estar ao alcance de todos, está restrito a grupos, segregando conhecimento ao invés de integrar. Não compete ao divulgador selecionar um grupo para ter acesso ao conhecimento. É dever do cientista-divulgador escrever numa linguagem que alcance o maior número de pessoas possível, de diferentes classes (sociais/econômicas), idades, culturas, etnias, áreas profissionais, com ou sem crenças religiosas etc. Devemos ofertar o acesso à parte do conhecimento, fornecer uma degustação. Degustação essa saborosa o suficiente para impelir a busca de novos sabores e contribuir para a formação de novos gourmets e chefs!



Serão publicados quatro textos por mês, um por semana, sobre diversos temas relacionados à ciência. Seção sobre grandes cientistas, livros de divulgação científica e blocos temáticos também farão parte desse projeto. Além de nós, outros colegas do mundo da ciência contribuirão contando histórias, relatos, ensaios e breves artigos sobre temas que fogem um pouco do nosso campo de atuação. A participação dos leitores também é fundamental. Para sugestões, pedidos (de ensaios, bibliografia etc), críticas, informações e uma miríade de opções, escrevam para cienciaeh@gmail.com.


Quem somos nós...


Lívia Rodrigues Pinheiro é uma curiosa nata, que decidiu ser cientista ao perceber o quão pouco conhecia da sua tão admirada ciência. A afeição pela diversidade da vida e a intensa dificuldade com a matemática a levaram à biologia. A inclinação para ciências humanas a levou às mais históricas das disciplinas biológicas - taxonomia, sistemática e evolução. Licenciou-se em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Concluiu o mestrado em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e atualmente cursa doutorado em Zoologia pela mesma instituição. Sua área de pesquisa é taxonomia e sistemática de Lepidoptera (mariposas e borboletas), com ênfase na família Noctuidae. Interesses gerais incluem evolução, biogeografia, divulgação científica, e história e filosofia da biologia.



Pedro Augusto da Pós Rodrigues biólogo, sempre foi fascinado em aprender pela simples observação comportamental, especialmente de animais sociais (afinal, quem nunca parou intrigado para observar formigas?). Recentemente, contudo, tem aprendido a arte e valor de se fazer perguntas integrativas na ciência e de divulgar suas respostas. Como resultado, acaba de iniciar seu doutorado focando na relação entre bactérias e formigas e pretende buscar nesse sistema padrões que ajudem a explicar o porque destes insetos serem tão abundantes e capazes de explorar recursos tão diferentes.


Rafaela Lopes Falaschi é bióloga e curiosa por natureza. Apaixonada por fósseis, teve o prazer de conhecer Stephen Jay Gould lendo "Vida Maravilhosa", e a partir de então se engraçar por Evolução. Licenciada pelo Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), desde 2004. Deixando os mares paleozóicos em Botucatu, concluiu o mestrado em Ciências, com área de concentração em Entomologia, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), em 2008. Atualmente é doutoranda na mesma área, estudando as relações filogenéticas de Keroplatidae, uma família dentro de Diptera. Tem interesse em Zoologia (especialmente zoologia de invertebrados), Entomologia, Paleontologia, Sistemática Filogenética, Biogeografia, Ensino de Ciências e Biologia, Divulgação Científica.



Simeão de Souza Moraes é biólogo graduado na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP) e Mestre pelo Instituto de Biociências (IB-USP). Atualmente é doutorando do instituto de biologia da Universidade de São Paulo, desenvolvendo trabalhos na área de sistemática e taxonomia de Lepidoptera, com ênfase nas famílias Castniidae e Arctiidae (Pericopina).