Por Leandro Assis
Ciência é um processo de
investigação e descoberta, fundamentado num arcabouço grandioso de conceitos,
métodos, teorias e observações. Podemos dividir a ciência em experimental e histórica.
Na ciência experimental, as condições de um certo experimento são geralmente
controladas. Os resultados obtidos são a base para formular predições, que,
quando sujeitas a testes sucessivos, podem ser refutadas ou não. Dessa forma, o
cientista experimental tem maior controle de sua análise, desde o presente até
o futuro. No caso da ciência histórica, o cientista não consegue controlar
facilmente as condições de análise, uma vez que investiga eventos passados, não
mais observáveis, pois esses aconteceram há centenas, milhares, milhões ou
bilhões de anos. Como exemplos, destacam-se a extinção dos dinossauros (exceto
aves), a origem das angiospermas e o Big-Bang.
Para descobrir tais eventos, o cientista investiga um conjunto de evidências
(dados) ou traços históricos potencialmente relacionados aos próprios eventos.
Ou seja, o cientista histórico não faz predições, ele realiza uma inferência, quando
um conjunto de evidências ou traços históricos é usado para confirmar um evento
já ocorrido.
A integração entre sistemática e
evolução insere um componente histórico na pesquisa da biodiversidade. Nesse
contexto, o papel do sistemata ou do biólogo evolutivo é descobrir como as
relações de parentesco (genealógicas ou filogenéticas) da biodiversidade
aconteceram ao longo de sua evolução. Ou seja, o sistemata procura descobrir e explicar
o padrão evolutivo da árvore da vida. Ele investiga, por exemplo, quem, entre o
abacate, a laranja e a maçã, são mais próximos genealogicamente ou
filogeneticamente. Com base na comparação de características morfológicas e
genéticas e na utilização de certos
métodos e modelos matemáticos, os sistematas têm confirmado que a maçã e a
laranja possuem um ancestral comum mais recente em relação ao abacate. Mas a
laranja, a maçã e o abacate possuem um ancestral comum mais recente em relação
à samambaia.
Existem diversos problemas dentro
da ciência biológica histórica com relação à descoberta do padrão evolutivo da
árvore da vida. As espécies que vivem hoje são apenas uma
pequena parte de toda biodiversidade que existiu na Terra ao longo de sua história.
Dessa maneira, o trabalho do sistemata é bastante desafiador e se compararia a
montar um quebra-cabeça no qual várias peças (informações) estão faltando. A árvore
da vida tem um padrão único. Esse é um fato histórico. Todavia, diferentes
tipos de evidências (dados) ou traços históricos podem resultar em diferentes
hipóteses. Como consequência, os sistematas podem formular diversas teorias
sobre um mesmo mundo ou realidade evolutiva, o que explica as conflitantes
classificações de um mesmo grupo de organismos.
Para entendermos a diferença
entre ciência histórica e ciência experimental, então, é necessário entendermos
a assimetria temporal dos eventos naturais. A ciência histórica usa as evidências
que existem no presente para inferir eventos passados, enquanto a ciência
experimental prevê eventos futuros. No entanto, tais relações podem se
sobrepor. Certos pesquisadores acreditam que a análise experimental é
científica, porque as observações podem ser criteriosamente controladas e
testadas. Já no caso da análise histórica, onde as variáveis ambientais não
podem ser facilmente controladas e os eventos não são observáveis, os críticos
dizem que tal análise é frágil e imprecisa, portanto, não científica. No
entanto, uma vez que entendemos a assimetria temporal dos eventos naturais e os
tipos de evidência contemplados, tal consideração torna-se filosoficamente
insustentável. As duas formas de análise, portanto, são genuinamente
científicas.
Agradecimentos
Agradeço aos
organizadores do blog ‘Ciência é...’, Lívia Pinheiro, Pedro Da Pos, Rafaela
Falaschi, e também à Vanessa Roma pelos comentários e correções valiosos.
Sobre
o autor
Leandro Cézanne de Souza Assis É sistemata filogenético, que busca a
compreender e organizar a biodiversidade em constante transformação, desde os
tempos mais remotos até os dias de hoje. Estuda em particular as lauráceas,
plantas com flores (angiospermas), que agrupam o abacateiro, a cânfora, as
canelas e o louro. Nas horas vagas, caça borboletas do gênero Vanessa, anda de ‘esqueite’ e vai ao
cinema. Lattes.
Figuras
e respectivos sites:
- A árvore da vida (Gustav Klimt, de 1905-1909) http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en|pt&u=http://www.mcs.csueastbay.edu/~malek/Klimt/Klimt27.html
- Árvore monofilética dos organismos (Ernst Haeckel, 1966) http://en.wikipedia.org/wiki/Ernst_Haeckel
um texto maravilhoso feito com uma linguagem fácil de entender.
ResponderExcluirum texto maravilhoso feito com uma linguagem fácil de entender.
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