Saímos
das escolas acostumados com definições, conceitos geralmente bem delimitados
pelos livros ou pelos professores. Mas logo nas primeiras semanas na universidade
temos o choque de descobrir que as possibilidades são várias, e as
interpretações, maiores ainda. Ou seja, encontramos diversas definições e
conceitos para uma mesma coisa. O que
não é diferente para o termo biodiversidade.
Num
primeiro momento pode-se entender equivocadamente biodiversidade como riqueza
de espécies ou abundância, uma vez que é bastante difundido assim em livros
didáticos, jornais e revistas, etc. Riqueza, na verdade, trata do número
absoluto de espécies, enquanto abundância designa o número de indivíduos em
cada conjunto de espécies; já diversidade fala de diferença, multiplicidade de
coisas distintas, variadas. Notamos que são compreensões bem distintas,
portanto não podemos tratar tais expressões como sinônimos. Mas também restringir
o conceito de biodiversidade a somente a diversidade de espécies é muito vago...
E foi ao longo do caminhar dessas duas senhoras – a Biodiversidade e a Biologia
da Conservação – regado a muitas discussões, que em 1982, numa conferência em
Bali (World National Parks Conference), Bruce Wilcox definiu:
“Diversidade Biológica é a variedade de formas vivas…
em todos os níveis de sistemas biológicos (ou seja, molecular, organísmico,
populacional, de espécies e ecossistemas)..."
E em 2004, no livro “Biodiversity:
an introduction”
(Biodiversidade: uma introdução) Kevin J. Gaston e John I. Spicer
definem Biodiversidade como:
“variação
da vida em todos os níveis de organização biológica”
Definições
estas que vão de acordo com uma série de outros estudiosos que dizem ser
imprescindível considerar não somente a diversidade de espécies, assim como a
diversidade genética, de ecossistemas e dos próprios organismos num nível
abaixo o de espécie. Sendo assim, neste espaço, definiremos biodiversidade como
a variação da vida em todos os níveis de organização biológica.
Por
que essa definição? Analisemos como dissociar ecossistemas e espécies, espécies
e organismos, organismos e genética, e assim por diante. Tudo é coeso e “uma
coisa só”. A distinção somos nós que fazemos para tentar compreender de maneira
mais organizada os objetos de estudo. Só que no longo caminhar dos laboratórios
das universidades e centros de pesquisas, até as escolas do ensino fundamental
e médio, essa compreensão de separação arbitrária se perdeu e, como consequência,
aprendemos a ver o mundo e as coisas de forma bem delimitada, separadas e não
relacionadas, com uma definição só, um conceito só.
Percebemos
ao longo da nossa história que muitas coisas se relacionam no caminhar das duas
senhoras, e que não se não se restringem à biologia. E, não havendo a
compreensão dessa visão estanque que adquirimos ao longo da nossa formação
pré-universitária (a qual nem sempre é desfeita nas universidades), pouco
entenderíamos sobre o porquê de 2010 ser o Ano Internacional da Biodiversidade,
e o que isso tem a ver conosco. Partindo dessa definição mais abrangente de biodiversidade
e assumindo que faremos uma força para desenvolver uma visão mais sistêmica do
mundo, vejamos:
A biologia
da conservação surgiu em resposta à Crise da Biodiversidade*. É um dos
desmembramentos da biologia mais multidisciplinar (pensando no velho esquema do
conhecimento dividido em disciplinas), envolvido em testar a viabilidade a longo prazo de ecossistemas inteiros.
Os mesmos biólogos Soulé e Wilcox, dois proponentes da disciplina Biologia da Conservação a definiram, na década de 1980,
como “um novo estágio na aplicação da
ciência em problemas relacionados à conservação, no que tange a biologia das
espécies, comunidades e ecossistemas que são perturbados, direta ou
indiretamente pela atividade humana e outros agentes, de maneira a prover
princípios e ferramentas para a preservação da diversidade biológica.”. Neste
ínterim, já se sabia o que era a diversidade biológica e se percebia que esta
estava sendo inegavelmente agredida, como dito por Richard Dasmann ao mencionar
os nossos avanços na 3ª Guerra Mundial. Faltava então, uma frente de batalha
para reverter tal cenário, ou ao menos desacelerar o ritmo dessas agressões.
O
número de conferências abordando o assunto se tornava cada vez mais frequentes,
o número de artigos acadêmicos crescia, surgiam revistas científicas
especializadas no assunto, livros acadêmicos e não-acadêmicos eram lançados,
divulgação científica era feita por meio de jornais, revistas, televisão, rádio
(não tão comum aqui no Brasil, em alguns países do exterior, professores
universitários e pesquisadores palestram ao vivo, o que hoje acontece também
como os podcasts, por exemplo). A
atenção da sociedade, de todos os cidadãos era buscada, cada dia mais um pouco.
É notório o desejo dos conservacionistas, ecólogos e biólogos da conservação da
participação da população no que diz respeito à conservação da biodiversidade
do planeta, aquecimento global, destruição da camada de ozônio e outros temas
correlatos.
Mais
uma pergunta... Por que todo esse empenho? Que tanto a população mundial, sem
distinção de classes, etnias, profissões podem fazer a esse respeito? Desconfio
que muito! Simples mudanças de hábitos, como jogar o lixo na lata de lixo, reduzir
o consumo de carne, reutilizar mais
as coisas, cobrar dos nossos
representantes políticas preocupadas com resultados a longo prazo, fariam uma
diferença de proporções inimagináveis. E por que fazer isso? Mudar hábitos,
quais forem estes, é algo bastante incômodo e exige muito movimento, tanto
interno como externo. Mas a razão é convincente é óbvia.
Quem
joga lixo no chão da sua casa? Compra muito mais do que consome e joga tudinho
no lixo sem se importar com o que gastou? Não cobra dos pais o almoço e a
mesada? Etc e tal. Salvo exceções, cuidamos da nossa casa. E pasmem! A nossa
casa é muito maior do que pensamos. Ela vai além dos muros, das grades, dos
portões, das calçadas, das ruas, das cidades, dos rios, dos mares... Parece até
jargão, mas a nossa casa é o nosso planeta!!! E por que não cuidar dela toda, e
só de um pedaço?
A
nossa responsabilidade é muito maior do que compreendemos. Não são os biólogos,
ecólogos, conservacionistas, políticos que são os únicos responsáveis por se
preocuparem com questões concernentes à dinâmica ambiental da Terra. Eles falam
bastante por aí, representam muita gente, mas são muito poucos, em números.
Diferença será feita quando os não biólogos, não ecólogos, não
conservacionistas, não políticos, ou seja, todos nós, sociedade, realizarmos
que o problema é tão nosso, que a solução- se ainda houver tempo, e acredito
que haja- também é nossa.
* Discutiremos
melhor num outro post o que a “Crise
da Biodiversidade”.
Fonte das figuras:
E. Zang
RedBug (ideia
e criação Juliano Caetano)
Para ler:
O Poema Imperfeito, Fernando
Fernandez, editora UFPR, 257 pp., 2005.
Diversidade da Vida, Edward
O. Wilson, editora
Companhia das Letras, 447 pp., 1998.
Biodiversidade, Edward O. Wilson,
2ª edição, editora Nova Fronteira, ISBN: 85209079X 680, 657 pp., 1997.
Biologia da Conservação,
Richard B. Primack & Efraim Rodrigues, ISBN: 8590200213, 2001.
Primavera Silenciosa,
Rachel L. Carson, editora Melhoramentos, 1969.
é muito legalll;eu achei muitoo interessante
ResponderExcluiresse é o q eu chamo de biodiversidade
ResponderExcluirgostei mais deveria definir tambem biodiversidade fasendo com que envolve a escola para a preservaçao dela em fim é isto!!!!
ResponderExcluirmuito obriga por me atenderem e tegem muito sucesso ate a proxima xau !
Poderia ser mais completo. Nunca é demais quando se trata de aprender.
ResponderExcluirPoderia ser mais completo, mais sucinto... Poderiam haver mais perguntas e sugestões e novos textos! ;)
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