quarta-feira, 7 de abril de 2010

Salvar a vida no nosso Planeta?

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      A internet é uma fonte muito rica em coisas boas e ruins. E nisso incluímos textos, vídeos, reportagens etc. Vamos fazer uma seleção de alguns desses (bons) vídeos e compartilhar aqui no nosso espaço periodicamente. O vídeo que se segue é uma palestra proferida pelo biólogo Edward O. Wilson, mencionado já algumas vezes aqui. Ele fala sobre nosso planeta e sobre cuidar dele. Vale a pena ver e pensar sobre o assunto, especialmente quando recentenmente, outro biólogo conversacionista famoso James Lovelock (proponente da Teoria de Gaia, que veremos melhor num próximo texto) fez uma declaração polêmica à BBC de Londres (vejam o vídeo em inglês aqui), onde diz que a humanidade não é capaz de salvar o planeta. Certo ou errado, o assunto é muito delicado. As interpretações podem ser inúmeras e mesmo que não sejamos capazes de "salvar" nosso planeta, nossa casa, devemos, de qualquer modo, não cuidar dela?

E.O. Wilson on saving life on Earth

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Segue a transcrição da palestra em português:

"Por toda minha vida imaginei o que "estupefação" singnificava. Depois de dois dias aqui, eu me declaro estupefato, e enormemente impressionado, e sinto que vocês representam uma das grandes esperanças. Não apenas para realizações norte-americanas em ciência e tecnologia, mas para o mundo todo. Eu venho, entretanto, em uma missão especial em favor dos meus cidadãos. Que são da décima à décima oitava potência -- isso é um milhão de trilhões --insetos e outras pequenas criaturas, e fazer um pedido por elas. se nós fôssemos eliminar os insetos apenas, só esse grupo, do planeta -- o que estamos tentando arduamente fazer -- o resto da vida e a humanidade praticamente desapareceriam junto da terra. E dentro de poucos meses. Agora, como eu cheguei a essa posição particular de defesa?
Daquele estudo mais amplo emergiu uma preocupação e uma ambição, cristalizada no desejo que estou prestes a fazer a vocês. Minha escolha é a culminação de um compromisso de toda uma vida que começou com a criação na costa do golfo no Alabama, na península da Flórida. Tanto quanto posso lembrar, eu era encantado pela beleza natural daquela região e a quase tropical exuberância das plantas e animais que cresciam lá. Um dia quando eu tinha apenas sete anos e estava pescando, eu fisguei um Sargo -- é como são chamados, com espinha dorsal afiada -- muito brusco e rápido. E me ceguei em um dos olhos. Mais tarde descobri que tinha audição ruim, provavelmente congênita, nas notas altas. Então ao planejar ser um naturalista profissional -- eu nunca me considerei outra coisa a vida inteira -- eu descobri que era ruim para observar pássaros e não podia ouvir o coaxar de sapos também. Então me voltei para as abundantes pequenas criaturas que podem ser seguradas entre o polegar e o indicador. as pequenas coisas que compõe os fundamentos de nossos ecossistemas. As pequenas coisas, como gosto de dizer, que movem o mundo. Ao fazer isso, eu atingi uma fronteira da biologia tão estranha, tão rica que parecia existir em outro planeta. Na verdade, nós vivemos em um planeta quase inexplorado. A grande maioria dos organismos da Terra permanece desconhecida da ciência.
Nos últimos 30 anos, graças às explorações em partes remotas do mundo e aos avanços em tecnologia, biólogos, por exemplo, acrescentaram um terço das espécies conhecidas de sapos, rãs e outros anfíbios, para o total atual de 5.400. E outras continuam a ser acrescentadas. Dois novos tipos de baleias foram descobertos, e dois novos antílopes, dúzias de espécies de macacos e um novo tipo de elefante. E mesmo um tipo diferente de gorila! No extremo oposto da escala de tamanhos, a classe de bactérias marinhas, as Prochlorococci -- que estarão no exame final --ainda que descobertas só em 1988, são agora reconhecidas como os organismos mais abundantes da Terra. E especialmente, responsáveis por boa parte da fotossíntese que ocorre no oceano. Estas bactérias não foram descobertas mais cedo porque elas estão também entre os menores organismos da Terra --tão pequenas que elas não podem ser vistas com a microscopia ótica convencional. Ainda assim a vida marinha deve depender destas minúsculas criaturas.
Estes exemplos são apenas a primeira impressão de nossa ignorância sobre a vida neste planeta. Considerem os fungos -- incluindo cogumelos, "ferrugens", mofos, e muitos organismos causadores de doenças. 60.000 espécies são conhecidas pela ciência mas estima-se que existam mais de 1,5 milhões.Considere o nematelminto, o animal mais abundante. Quatro de cada cinco animais na Terra são nematelmintos -- se todos os materiais sólidos exceto os nematelmintos fossem eliminados, você ainda poderia ver o contorno fantasmagórico de quase tudo como nematelmintos. Em torno de 16.000 espécies de nematelmintos foram descobertos e diagnosticados por cientistas; podem existir centenas de milhares delas, mesmo milhões, ainda desconhecidas. Este vasto domínio de biodiversidade invisível é aumentado ainda maispela matéria escura do mundo biológico das bactérias, das quais ainda durante os últimos anos eram conhecidas apenas em torno de 6.000 espécies no mundo todo. Mas esse número de espécies de bactéria pode ser encontrado em uma grama de terra. em apenas um punhado de terra, das 10 bilhões de bactérias que estariam lá.Se estima que uma única tonelada de solo -- solo fértil -- contenha aproximadamente quatro milhões de espécies de bactérias, todas desconhecidas.
Mas isso está mudando rapidamente com a ajuda de uma nova tecnologia genômica. Já é possível sequenciar o código genético inteiro de uma bactéria em menos de quatro horas. Breve estaremos em posição de ir a campo com sequenciadores na mochila -- para caçar bactérias em minúsculas fissuras da superfície do habitat do mesmo modo que observamos pássaros com binóculos. O que vamos encontrar quando mapearmos o mundo vivo, quando, finalmente, chegarmos ao fundo disso seriamente? Quando deixamos de lado os relativamente gigantes mamíferos, pássaros, anfíbios e plantas para os mais discretos insetos e outros pequenos invertebrados e então além --para os incontáveis milhões de organismos no mundo vivo invisível inseridos e vivendo dentro da humanidade. O que por gerações se pensou serem bactérias descobriu-se que compunham em lugar disso dois grandes domínios de microorganismos: bactérias verdadeiras e organismos unicelulares, as archaea, que estão mais próximos que as outras bactérias dos eucariontes, o grupo de organismos dos quais nós pertencemos.
Alguns biólogos sérios, e eu me considero entre eles, começaram a imaginar que dentro da enorme e ainda desconhecida diversidade de microorganismos, alguém pode -- por acaso -- encontrar alienígenas dentre eles. Alienígenas reais, variedades que vieram do espaço sideral.Eles tiveram bilhões de anos para conseguir, mas especialmente durante o período inicial de evolução biológica neste planeta. Nós sabemos que algumas espécies de bactérias que têm origens terrenas suportam quase inimagináveis extremos de temperatura e outras severas mudanças no ambiente. Incluindo radiação forte o suficiente e com duração suficiente para quebrar os recipientes de Pyrex que contêm a crescente população de bactérias. Pode haver uma tentação de tratar a biosfera holisticamente e as espécies que a compõe como uma grande corrente de entidades que não vale a pena distinguir uma da outra. Mas cada uma destas espécies, mesmo o mais minúsculo Prochlorococci, são obras-primas da evolução. Cada uma persistiu por milhares a milhões de anos. Cada uma é perfeitamente adaptada ao ambiente em que vive,interconectada com outras espécies para formar ecossistemas dos quais nossas próprias vidas dependem de modos que nós não começamos sequer a imaginar. Nós vamos destruir estes ecossistemas e suas espécies ameaçando nossa própria existência -- e infelizmente estamos destruindo eles com engenhosidade e inesgotável energia.
Minha própria revelação como conservacionista veio em 1953, quando estudante de graduação em Harvard procurando por raras formigas nas florestas montanhosas de Cuba. Formigas que brilham ao sol -- verde metálico ou azul metálico e uma espécie, que descobri, dourada. Eu encontrei minhas formigas mágicas, mas apenas depois de uma dura escalada nas montanhas onde o que resta das florestas cubanas nativas está, e estavam -- e ainda estão -- sendo derrubadas. Eu percebi então que estas espécies e uma grande parte de outros únicos, maravilhosos animais e plantas naquela ilha -- e isto é verdade para praticamente todas as partes do mundo -- que demoraram milhões de anos para evoluir, estão em processo de desaparecer para sempre. E o mesmo em qualquer lugar que se procure.
A investida humana está permanentemente erodindo a antiga biosfera da Terra por uma combinação de forças que podem ser resumidas pela sigla "HIPPO", o animal. H é Habitat destruído, incluindo mudanças climáticas forçadas pelos gases estufa. I é Invasão de espécies como as formigas-de-fogo, mexilhão-zebra, ervas daninhas e bactérias patogênicas e viroses que estão invadindo todos os países a uma taxa exponencial, isto é o I. O P, o primeiro em "HIPPO", é Poluição. O segundo é População contínua, expansão da população humana. E a letra final é O, Ostensiva coleta -- levando espécies à extinção pela caça e pesca excessivaA investida HIPPO que nós criamos, se não detida, está destinada -- de acordo com as melhores estimativas da pesquisa de biodiversidade em curso -- a reduzir metade dos ainda sobreviventes animais e plantas da Terra à extinção ou ameaça crítica até o final do século. A mudança climática provocada pela humanidade sozinha -- novamente, se não detida -- pode eliminar um quarto das espécies sobreviventes durante as próximas cinco décadas O que nós e todas as futuras gerações perderemos se a maior parte do ambiente vivo for assim degradada?Enormes fontes potenciais de informação científica ainda a ser encontradas, muito da nossa estabilidade ambiental e novos tipos de medicamentos e novos produtos de inimagináveis forças e valores -- todos jogados fora.
A perda vai infligir um custo pesado em riqueza, segurança e sim, espiritualidade a todo o tempo por vir. Porque cataclismas anteriores deste tipo --o último acabou com a era dos dinossauros --demoram, ou consomem, normalmente, cinco a dez milhões de anos para se consertar.Infelizmente, nosso conhecimento da biodiversidade é tão incompleto que arriscamos perder uma boa parte dele antes mesmo de descobrí-lo. Por exemplo, mesmo nos Estados Unidos, as 200.000 espécies atualmente conhecidas na verdade se descobriu ser apenas uma cobertura parcial; são na maioria desconhecidas de nós em biologia básica.Apenas em torno de 15% das espécies conhecidas foram estudadas bem o suficiente para avaliar sua situação. Dos 15% avaliados, 20% são classificados como "ameaçados." Ou seja, em perigo de extinção. Isso nos Estados Unidos. Estamos, em resumo, em vôo cego para nosso futuro ambiental. Precisamos mudar isto urgentemente. Precisamos ter a biosfera adequadamente explorada para que a possamos entender e gerenciar de modo competente.Precisamos resolver isso antes de destroçar o planeta. E precisamos desse conhecimento.
Isto deveria ser um grande projeto científico equivalente ao Projeto do Genoma Humano.Deveria ser visto como uma viagem à Lua biológica, com um cronograma. Então isto me leva ao meu desejo aos TEDsters, e a qualquer um em todo o mundo que assista a esta palestra.Eu desejo que trabalhemos juntos para ajudar a criar as ferramentas fundamentais que precisamos para inspirar a preservação da biodiversidade da Terra. E vamos chamá-la de "Enciclopédia da Vida." O que é a "Enciclopédia da Vida" -- um conceito que já foi incorporado e está começando a se espalhar e ser visto com seriedade? É a enciclopédia que existe na Internete que recebe contribuições de milhares de cientistas de todo o mundo. Amadores podem ajudar também. Ela tem uma página infinitamente expansível para cada espécie.

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