quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Por aí...


VI Curso de Identificação em Campo
das Principais Famílias Botânicas
da Mata Atlântica

23 e 24 de outubro de 2010





Os objetivos deste curso são:

- conhecer o domínio Mata Atlântica, sua origem, fatores condicionantes,
fisionomias, usos e riscos;
- identificar os diferentes estágios sucessionais da floresta, com base na análise
de sua fisionomia e composição de espécies;
- ter contato com conhecimentos teórico-práticos na área de morfologia que
sirvam de subsídios na atividade de identificação de plantas nativas através de
caracteres vegetativos básicos das famílias botânicas da Mata Atlântica.


Mais informações:
ou por email nest_usp@yahoo.com.br

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Por aí...

IX Curso de Verão em Entomologia



Os pós-graduandos do programa de Entomologia da Universidade de São Paulo – campus Ribeirão Preto têm realizado, nos últimos 9 anos, o Curso de Verão em Entomologia. Desde a sua primeira edição, em 2003, o curso tem sido voltado aos alunos de graduação de diferentes áreas das Ciências biológicas, agrárias e áreas afins. Já que o número de alunos interessados aumenta a cada ano, provenientes de diferentes universidades estaduais, federais e particulares brasileiras, a comissão organizadora tem a necessidade de realizar uma cuidadosa seleção. Este ano, serão 30 vagas, a fim de garantir o aproveitamento de todos os mini-cursos.

Em 2011, será realizada a 9ª edição do Curso de Verão em Entomologia. Tradicionalmente, haverá  palestras e mini cursos de diferentes docentes pesquisadores e pós-graduandos do programa e de vários pesquisadores externos convidados. 

Ajudem na divulgação!!!!



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A crítica científica no processo dinâmico do conhecimento

Considerações acerca da divulgação científica

por Sibila Carvalho
                                                  
Há sobre a divulgação científica uma expectativa tradicional de que ela deva desempenhar a mera função de traduzir o discurso técnico e especializado da ciência em outro, de fácil compreensão para o público. No entanto, tem-se reconhecido na difusão do conhecimento científico o poder de se estabelecer uma cultura capaz de influenciar não apenas o exercício da cidadania e a tomada de decisões na sociedade, mas o próprio processo de produção do conhecimento. Nessa perspectiva, o divulgador da ciência não deve apenas se limitar à reprodução do discurso científico na mídia, mas abordá-lo de forma contextualizada, a incitar a reflexão e o reconhecimento da ciência como um fenômeno cultural.

Ab ovo1

Fig. 01

Está comprovado! Uma dieta rica em ovos pode elevar drasticamente o colesterol e potencializar os riscos de cardiopatias. Mas não se desespere: ricos em proteínas, vitaminas B e ferro, os ovos são grandes aliados de sua saúde e – alegre-se – podem ajudar na perda de peso!

Não é raro o leitor se deparar com manchetes em jornais e revistas, especializados ou não, como a exemplificada acima. O ovo talvez lidere o ranking de dados produzidos pela ciência que ora são defendidos por pesquisadores e profissionais da saúde, ora encarados como grandes vilões por seus pares. Resultados científicos levados ao público de forma tão categórica e apresentados como a única e possível forma de interpretação da realidade, acabam gerando ao redor da ciência uma atmosfera de confusão e ceticismo.

Diante do crescente número de inovações científicas e tecnológicas dos últimos vinte anos, pode-se pensar que esse problema encontra suas origens apenas na prática muitas vezes sensacionalista, tendenciosa e de visão panorâmica da comunicação. No entanto, muitas das falhas características da divulgação científica advêm do imaginário criado sobre a ciência à época de sua institucionalização, no século XIX.

Foi somente a partir da segunda metade do século XIX, com a revolução técnico-científica, a qual perdura até os dias de hoje, que a ciência foi integrada ao processo capitalista, fornecendo às técnicas industriais seu conhecimento acumulado e por ele sendo financiada. Antes desse período, não existiam bases sólidas, institucionais ou sociais, para a ciência e seus praticantes. A ciência era ainda tida como uma atividade para amadores; e tanto as universidades quanto as indústrias e os governos não destinavam considerável atenção às profissões científicas.

Buscando romper com a característica vida medieval, a sociedade industrial que nasce nos finais do século XVIII, após a primeira Revolução Industrial, e se expande com a revolução técnico-científica, calcou-se nos ideais iluministas de sua época para estabelecer os alicerces da produção do conhecimento científico e tecnológico. Para quebrar os elos com o conhecimento extremamente ligado à metafísica e à religião da Idade Média, filósofos e cientistas se apegam ao empirismo e ao positivismo2 para afirmar a ciência como única forma de conhecimento verdadeiro.

Nesse cenário, a ciência se legitima na sociedade ocidental como única detentora do método capaz de atingir a verdade sobre o universo, criando no imaginário social um valor irrefutável para a expressão “cientificamente comprovado”. Os cientistas, assim, despontam no início do século XX como os detentores do saber. A ciência renasce da que passou a ser denominada Idade das Trevas como a criadora de um conhecimento altamente confiável e reprodutível a partir do rigor metodológico. E, para garantir o sucesso de seus experimentos e suas interpretações, ser cientista exigiria, seguindo tais ideais iluministas, manter-se alheio ao contexto social e aos interesses políticos e econômicos, e, por que não, ser dotado de certa genialidade para a árdua missão da produção do conhecimento científico.

Em consequência, a comunicação dedicada à ciência acabou, em muitas vezes, e mantém-se inerte até os dias de hoje, limitando-se a reproduzir o discurso científico de maneira indiscutível, funcionando apenas como seu transportador ao público, rendendo-se aos fascínios de suas invenções e caindo nas armadilhas de suas parcialidades.

Divulgação jornalisticamente comprovada

Quando se fala nas deficiências da divulgação científica no Brasil, há um senso comum que aponta como seu grande responsável o despreparo dos profissionais da comunicação para tratar de ciência, sua falta de conhecimento dos conceitos científicos e do baixo rigor de seu discurso, que se vale, muitas vezes, de metáforas errôneas e generalizações inapropriadas.

Não há que se duvidar de que os investimentos na formação de profissionais qualificados para a atividade de difusão do conhecimento científico devam ser o ponto de princípio para se estabelecer uma sólida base de informação sobre a ciência entre os cidadãos brasileiros.

Entretanto, podem-se também identificar nas falhas da comunicação entre a comunidade científica e a sociedade resquícios da visão positivista do século XIX, que atribuiu ao processo científico um distanciamento dos demais processos culturais.

A jornalista Mônica Teixeira, em Pressupostos do jornalismo de ciência no Brasil3, analisa a problemática do jornalismo científico – e que pode se estender aos demais estilos e mídias da divulgação da ciência – lançando o foco de atenção que se debruça demasiadamente sobre o “científico” para o “jornalismo”.
Teixeira aponta como uma das maiores faltas do jornalismo científico o fato de que jornalistas, por considerarem a ciência uma suprema detentora do saber e da verdade, esquece-se do principal pilar da prática jornalística: a busca pelo contraditório.

“Não te fiarás a uma só fonte para escrever tuas matérias”, frisa a jornalista ao abordar o que chama de primeiro mandamento do jornalismo. O repórter de ciência, como o repórter que cobre qualquer outro tema, antes de elaborar seu texto deve ouvir e questionar diferentes fontes, com distintas versões, para então construir uma versão própria para seu texto, cuja fonte final torna-se, assim, o próprio repórter.
O que se vê, no entanto, é que muitas matérias que abordam ciência costumam negligenciar esta “cláusula pétrea do bom jornalismo”, deixando-se seduzir pelos argumentos de uma única fonte, admitindo-os como única versão possível e inquestionável da realidade – já que “cientificamente comprovada”.

Para que o jornalismo científico e a divulgação da ciência, como um todo, cumpram seu devido papel, eles devem reconhecer o processo de produção do saber científico como um dentre os demais processos culturais da sociedade. A produção do conhecimento científico, assim como as demais formas de produção de conhecimento abordadas na mídia, sofre a constate intervenção ou se relaciona diretamente com interesses políticos e econômicos, que raramente são discutidos em matérias de conteúdo científico. E, por fim, os divulgadores da ciência devem sempre ter em mente que os cientistas, assim como os demais profissionais, não são dotados apenas de um raciocínio lógico e linear, mas também de sentimentos acumulados ao longo de suas experiências pessoais, como ambições, intuições e vaidades, por exemplo, o que contribui para tornar as versões científicas coletadas por um repórter da ciência objeto de questionamento e crítica da divulgação.

A dinâmica do conhecimento científico

Ao analisar o fenômeno da difusão do conhecimento científico, o linguista, poeta e pensador da divulgação científica Carlos Vogt4 afirma que seu principal escopo e ponto de chegada deva ser a consolidação do que chama de cultura científica. Vogt defende o uso dessa expressão por acreditar que ela englobaria todos os objetivos da divulgação, que se estendem desde a alfabetização científica de um público, ou seja, a transmissão dos conceitos e fundamentos relacionados aos temas de caráter científico, à constituição de uma percepção pública da ciência, lançando um olhar crítico sobre a mesma, indispensável ao exercício de cidadania e ao entendimento do processo científico como um fenômeno cultural.

Vogt ilustra, assim, a dinâmica da cultura científica como uma espiral ascendente, representada em duas dimensões a evoluir sobre dois eixos, um horizontal, do tempo, e outro vertical, do espaço, definindo-se quatro quadrantes. Em cada quadrante, o pesquisador posiciona as categorias constitutivas do desenvolvimento científico e seus atores. À medida que a espiral se desenha, partindo do 1º quadrante, ou quadrante da produção do conhecimento pela comunidade científica e de sua difusão entre pares, ela vai, conceitualmente, definindo as etapas de evolução de tal conhecimento.
Fig. 02

Iniciando em tal ponto, a espiral passa ao 2º quadrante, do ensino de ciência e da formação de profissionais ligados aos saberes da ciência, evoluindo ao 3º quadrante, que enquadra a difusão do conhecimento pelos profissionais mencionados no 2º quadrante, sejam eles professores, palestrantes ou curadores de museus de ciência, entre outros. Por fim, a espiral completa seu ciclo ao atingir o 4º quadrante, o das atividades próprias à divulgação científica, retornando, naturalmente, ao eixo de partida. Ao mesmo eixo, sim, mas não ao mesmo ponto. Ao descrever o movimento de sua espiral da cultura científica, o pesquisador incrementa seu raciocínio ao apontá-la como uma espiral ascendente, afirmando que a ciência, ao passar por diferentes etapas de difusão na sociedade, sofre um processo de expansão, o qual atinge seu ápice com a divulgação científica.

A divulgação científica, enfim, ao cumprir seu papel não apenas de meramente traduzir a linguagem científica, mas ainda o de questionar e repensar seu processo criativo e inovador, inclui-se entre os atores da própria produção do conhecimento, ampliando e intensificando seu complexo e surpreendente universo.
***

1. Ab ovo – “do ovo”, em latim, também entendido como “do princípio”.

2. Empirismo e positivismo são doutrinas filosóficas e científicas do Iluminismo, movimento de profundas transformações do pensamento ocidental que se originou na Europa, no século XVII. Embora a interpretação para ambas as doutrinas seja complexa e varie de acordo com o campo intelectual abordado, pode-se admitir, a título de um entendimento amplo, que o empirismo consiste na compreensão de que todo conhecimento se origina da experiência. O positivismo, no mesmo viés, fundamenta o conhecimento nos fatos observáveis, conferindo à ciência e ao seu método experimental o poder único de gerar, a partir da análise de dados concretos, o verdadeiro conhecimento, livre de abstrações ou interpretações metafísicas.

Para ler (Referencial bibliográfico):

BRAVERMAN, H. A revolução técnico-científica. In BRAVERMAN, H. (Org.) Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1987, 3ª Ed., pp. 137-147.

CITELI, M.T. (2007). Ciência e mídia: perspectivas a partir dos Estudos Sociais das Ciências. Texto preparado especialmente para alunos da V Edição do Curso de Jornalismo Científico do Labjor, Universidade Estadual de Campinas.

3. TEIXEIRA, M. Pressupostos do jornalismo de ciência no Brasil. In: Massarini, L. et al. Ciência e Público: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência, 2002. pp. 133-42

4. VOGT, C. A. A espiral da cultura científica. In Boletim de Ideias,Vol. 03. Fapesp: São Paulo, 2005, pp.3-33.

Fonte das figuras:

Fig 01 – The Concert in the Egg, de Hyeronious Bosch. Disponível para download em http://www.hieronymus-bosch.org/The-Concert-in-the-Egg.html

Fig 02 – A Espiral da Cultura Científica. Disponível em http://www.oei.es/divulgacioncientifica/opinion0060.htm

Sobre o autor:

Sibila Carvalho é bióloga formada pela FFCLRP-USP e tem especialização em jornalismo científico pelo Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo), Unicamp.