domingo, 18 de setembro de 2011

Por aí...

V Semana da Biologia - UFSCar - campus Sorocaba

O Curso de Ciências Biológicas da UFSCar de Sorocaba tem o prazer de convidá-los a participar da sua V Semana da Biologia!
O evento ocorrerá de 10 a 14 de Outubro no campus, e tem como objetivo a socialização e divulgação do conhecimento científico relacionado com a área das Ciências Biológicas, integrando não só alunos da UFSCar de Sorocaba como de outras instituições. O evento contará com 24 palestras, 6 mini-cursos e 3 oficinas.
Informamos que as inscrições estão abertas.
Fique atento que logo mais estaremos disponibilizando mais informações! (Visite o site)

Comissão Organizadora



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Esclarecimento sobre o incêndio na Floresta da USP-RP

O Banco Genético da USP de Ribeirão Preto, que faz parte do que é conhecido por Floresta da USP RP, é o único Banco Genético de mata mesófila semidecidual do Brasil. Ele foi implantado pelo Projeto Floresta da USP RP e possui 45 espécies, com uma diversidade de 3375 progênies coletadas em mais de 400 áreas de fragmentos naturais da Bacia do Pardo-Mogi. O objetivo do Banco é o de conservação genética das espécies nativas assim como fornecer sementes de origem conhecida e qualidade garantida, a fim de recuperar áreas degradadas. Hoje (16/08/2011) um incêndio iniciado por causas desconhecidas devastou grande parte da Floresta da USP, incluindo todos os 45 hectares do Banco Genético. Podemos comparar, embora os números sejam menores, com a perda da coleção do Butantã, ocorrida também por um incêndio, no ano passado. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto ficou boa parte do dia coberta por fumaça. Alunos, funcionários e professores lamentam essa grande perda e estão ávidos por uma investigação das causas desse desastre. A Profa. Elenice Mouro Varanda, que dedicou boa parte de sua carreira para a implantação da floresta da USP, pede encarecidamente que divulguem e também o apoio de todos nós.
***

A esperança, ideologia, trabalhos científicos (muitos em andamento), dinheiro público e uma riqueza genética florestal inestimável queimou junto com o Banco Genético da USP - Ribeirão Preto em um incêndio devastador! É lamentável saber que a ignorância de uma sociedade permite que ela conheça, e em poucos casos - "reconheça", a história e valor de um patrimônio construído em benefício de todos APENAS no dia de sua destruição. É triste ter que reportar que palestras, reportagens, passeios ecológicos, artigos científicos, notas e opniões pessoais tiveram uma representatividade imensamente menor que a fumaça e fuligem na divulgação do MAIOR patrimônio genético FLORESTAL ex situ do Brasil. De qualquer maneira, abaixo um pequeno texto sobre a construção e importância desse Banco Genético tenta informar, esclarecer e mobilizar a sociedade para que o esforço de anos de pesquisa não seja perdido... para que o trabalho de muitos biólogos, professores, estudantes e funcionários seja reconhecido não pelo "incômodo"!
O Banco Genético da USP de Ribeirão Preto, que faz parte do que é conhecido por Floresta da USP RP, é o único Banco Genético de mata mesófila semidecidual do Brasil. Ele foi implantado pelo Projeto Floresta da USP RP e possui 45 espécies, com uma diversidade de 3375 progênies coletadas em mais de 400 áreas de fragmentos naturais da Bacia do Pardo-Mogi. O objetivo do Banco é o de conservação genética das espécies nativas assim como fornecer sementes de origem conhecida e qualidade garantida, a fim de recuperar áreas degradadas. Hoje (16/08/2011) um incêndio iniciado por causas desconhecidas devastou grande parte da Floresta da USP, incluindo todos os 45 hectares do Banco Genético. Podemos comparar, embora os números sejam menores, com a perda da coleção do Butantã, ocorrida também por um incêndio, no ano passado. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto ficou boa parte do dia coberta por fumaça. Alunos, funcionários e professores lamentam essa grande perda e estão ávidos por uma investigação das causas desse desastre. A Profa. Elenice Mouro Varanda, que dedicou boa parte de sua carreira para a implantação da floresta da USP, pede encarecidamente que divulguem e também o apoio de todos nós.
DIVULGUEM AO MÁXIMO PARA TALVEZ AGILIZAR OS PROCESSOS DE INVESTIGAÇÃO DO CASO



Fotos:  F.L.Piton
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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Por aí...


CURSO: Introdução à Ecologia Molecular e Genética da Conservação


Objetivos: O curso tem como objetivo fornecer aos participantes os conceitos básicos e exemplos de aplicações de ferramentas genéticas para estudos ecológicos e em conservação (determinação de estruturas populacionais, identificação de espécies, sexagem, estudos forense, monitoramento e manejo de espécies ameaçadas). Permitirá ao aluno um amplo entendimento da Ecologia Molecular e da recente Genética da Conservação, utilizando-se de uma abordagem inedita, acessível e repleta de estudos de caso.
A quem se destina: Profissionais e estudantes nas áreas de Ciências Biológicas, Ecologia, Veterinária e áreas afins interessados na Ecologia Molecular e Genética da Conservação.
Carga horária: 20 horas
Data: 20 e 21 de agosto de 2011
Local: Curitiba, Paraná – Hotel Paraná Suíte
Investimento: R$ 150,00

terça-feira, 26 de julho de 2011

Por aí...


XXXIX Semana de Bio-Estudos

Semana de Bio-Estudos é um evento acadêmico, científico e cultural, organizado pelo CEB (Centro Estudantil da Biologia "Maria Madalena Costa Teles", da FFCLRP, USP), que tem como objetivo trazer aos estudantes cursos, palestras, mesas redondas e oficinas que complementem nossa formação.
Mais informações no site do CEB.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

As raízes da vida no planeta Terra: o maravilhoso mundo do RNA


Por Carlos Alexandre Henrique Fernandes

O ácido ribonucléico (RNA) é tratado classicamente como a molécula que comanda a síntese protéica, através dos RNAs mensageiros, (mRNAs), RNAs transportadores (tRNAs) e dos ribossomos (rRNAs). Entretanto, a partir do início do século, um grande número de estudos descobriu uma enorme diversidade de tipos de RNAs que não estava envolvida com a síntese proteíca: são moléculas de RNA relacionadas a complexos mecanismos de expressão gênica, seja nas formas de RNAs de interferência (microRNAs, small interference RNAs, entre outros) (Figura 1) ou na forma de riboswitches, estruturas enoveladas de RNA que interagem com metabólitos específicos para o controle da expressão gênica (Figura 1). Dessa maneira, o RNA deixou de ser um mero “coadjuvante” dos processos celulares e se tornou um dos principais atores dos intricados mecanismos de transcrição (formação do molde de mRNA a partir de DNA) e tradução (síntese de proteína a partir do mRNA). Esses grandes avanços em relação ao entendimento do funcionamento da molécula de RNA acabaram por dar mais subsídios para a discussão da origem da vida na Terra, tendo a molécula de RNA como o centro dessa discussão.


Figura 1: Diversidade de (a) estrutruturas secundárias de precursores de microRNAs. Esses precursores são transcritos a partir do DNA e uma pequena parte é clivada, dando origem ao microRNA maduro (em vermelho) que atuará na regulação da expressão gênica;  (b) riboswitches. Adaptado de Reinhart et al. (2002) e  Mandal et al. (2004).

A origem da vida é uma das grandes questões científicas que vem sendo abordada pelos mais ilustres pensadores há milênios. Atualmente, a hipótese do RNA world (mundo de RNA) é considerada pela maioria dos cientistas a mais bem conhecida, e talvez a única em que se tenha claramente ultrapassado o domínio da especulação. De acordo com esta teoria, antes das células modernas, o RNA era o material genético e, ao mesmo tempo, era ele que catalisava as reações químicas nas células primitivas. Apenas posteriormente é que o DNA se tornou o material genético e as proteínas os maiores componentes estruturais e catalisadores das células. Essa hipótese é reforçada por três evidências: i) o  pareamento complementar dos nucleotídeos, que promove a cópia exata da sequência, pois devido a essa complementaridade das bases, uma sequência serve de modelo para outra; ii) a decoberta das ribozimas, moléculas de RNA que possuem atividade catalítica e participam de importantes reações nas células modernas e iii) os viróides e virusóides, agentes infecciosos de plantas que consistem em um RNA pequeno (200 nucleotídeos), circular, fita simples, não codificante que, através da maquinaria de transcrição da célula hospedeira, é capaz de se auto-replicar. Por isso, as ribozimas, os viróides e os virusóides são considerados “fósseis moleculares” do RNA world.
            Entretanto, sob o ponto de vista químico e estrutural, é difícil imaginar como o RNA tenha se formado de uma maneira não-enzimática, já que as polimerases realizam uma hidrólise na formação dos ácidos nucléicos, atividade esta que requer uma molécula com atividade enzimática. Dessa forma, aponta-se que antes do RNA, as primeiras moléculas que possuíam atividade enzimática e capacidade de guardar informações eram polímeros, sem registros fósseis ou remanescentes nas células modernas, que se assemelham ao RNA, mas são quimicamente mais simples como, por exemplo, o PNA (Peptide nucleic acid) e o p-RNA (Pyranosyl-RNA) (Figura 2). A cadeia de ribose do RNA é substituída no PNA por uma cadeia peptídica, de maneira similar às proteínas. Essa cadeia peptídica, diferentemente da ribose é um polímero estável e se forma espontaneamente em altas quantidades em condições pré-bióticas. Entretanto, o PNA é mais rígido, e por isso pode trazer certas limitações à catálise, já que essa atividade provoca grandes modificações na estrutura da molécula que a realiza.  
Figura 2: Estrutura do PNA (a) e do RNA (b). Adaptado de Nelson et al(2002).


            A transição de um “pré-RNA world” para o RNA world pode ter se dado através da síntese de um RNA utilizando-se um desses polímeros tanto como fita-molde, como catalisador. Experimentos em laboratório mostraram que o PNA pode atuar como uma fita-molde para a síntese de RNA porque as geometrias das bases das duas moléculas são bastante semelhantes. A partir da primeira molécula de RNA, outras foram sendo geradas e se diversificaram gradualmente, até assumir carregar as funções que anteriormente eram dos polímeros pré-RNA e formar o RNA world.
            O processo de síntese de proteínas nas células modernas é um sistema bastante intrincado e complexo e por isso, torna-se difícil imaginar como ele se desenvolveu no RNA world. Por enquanto, apenas especulações sobre a origem da síntese proteica e do código genético podem ser feitas, mas alguns experimentos vêm sendo realizados e alguns cenários já podem ser desenhados. Experimentos de seleção de RNA in vitro produziram moléculas de RNA que conseguem se ligar fortemente a aminoácidos. A seqüência de nucleotídeos destes RNAs contém uma freqüência extremamente alta de códons do aminoácido que ele reconhece. Por exemplo, moléculas de RNA que se ligam seletivamente a arginina possuem uma alta freqüência de códons que codificam arginina. Essa correlação não é perfeita para todos os aminoácidos e sua interpretação pode ser duvidosa, mas pode indicar que um código genético limitado pode ter surgido de uma associação direta entre aminoácidos e seqüências específicas de RNA, com o próprio RNA servindo de molde para a polimerização de alguns aminoácidos. A eficiência desta síntese protéica primitiva deve ter aumentando consideravelmente após o surgimento ligação peptídica. Os ribossomos, por sua vez, podem ter surgido a partir de uma ribozima com capacidade de acrescentar aminoácidos e fazer ligações peptídicas, que com o passar do tempo, ficou maior e adquiriu a habilidade de posicionar corretamente os tRNAs nos moldes de RNA. Uma vez desenvolvida a síntese protéica, as proteínas, graças a sua maior versatilidade, puderam “conquistar” a maior parte das tarefas catalíticas e estruturais.
            Quanto ao DNA, a sua origem e a de seus mecanismos de replicação permanecem obscuras, mas elas devem ser posteriores ao surgimento das proteínas, já que um grande número de proteínas necessárias para a sua síntese e a formação da desoxirribose é um processo bastante complexo. A desoxirribose, comparada com a ribose, forma cadeias mais estáveis, possibilitando que o DNA possa se alongar sem perigos de rompimento, e   garantindo, assim, a função de depósito seguro para a informação genética. Dessa maneira, foi possível o alongamento do tamanho dos genomas e o surgimento de uma grande diversidade de formas de vida.


Sobre o Autor... Leia aqui!

Bibliografia
Alberts, A.; Johnson, A.; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.; Walter, P. Molecular Biology of the Cell. New York: Garland Sciences, 2002. 1463p.
Bartel, D.P.; Unrau, P.J. Constructing an RNA world. Trends in Cell Biology, v.9, M9-M13, 1999.
Daros, J.A.; Elena, S.F.; Flores, R. Viroids: an Ariadne's thread into the RNA labyrinth. EMBO Reports, v.7, p.593-598, 2006.
Knight, R.D.; Landweber, L.F. The early evolution of the genetic code. Cell, v.101, p.569-572, 2000.
Mandal, M.; Breaker, R.R. Gene regulation by riboswitches. Nature Reviews Molecular Cell Biology, v.5, p.451-463, 2004.
Nelson, K.E.; Levy, M.; Miller, S.L. Peptide nucleic acids rather than RNA may have been the first genetic molecule. Proceedings of National Academy of Science, v. 97, p. 3868-3871, 2000.
Reinhhar, B.J.; Weinstein, E.G.; Rhoades, M.W.; Bartel, B.; Bartell, D.P. MicroRNAs in plants. Genes & Development, v. 16, p. 1616-1626, 2002.
Winkler, W.C.; Breaker, R.R. Regulation of bacterial gene expression by riboswitches. Annual Review of Microbiology, v.59, p. 487-517, 2005.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O valor das coletas e coleções científicas


Por Lívia Pinheiro e Rafaela Falaschi

Na edição desse mês da revista de divulgação científica Ciência Hoje (ed. 282) publicamos um texto na seção Opinião discutindo o valor das coletas e coleções científicas por meio de dois fatos ocorridos no ano passado (2010) revelando o descaso com o trabalho de biólogos e taxonomistas: o incêndio da coleção zoológica no Instituto Butantan (SP) e a controvérsia envolvendo um ornitólogo no Paraná – tratado como criminoso ambiental. Esses exemplos são o mote para a discussão apresentada no texto sobre a importância da pesquisa científica hoje no país.

Pessoas interessadas no texto podem escrever para as autoras.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Uma nova espécie de predador triássico do Rio Grande do Sul


Por Marco Aurélio de Gallo França

O Achado:
No início do ano de 2001, paleontólogos do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (MCN/FZB-RS) - Dr. Jorge Ferigolo, Dra. Ana Maria Ribeiro e Dr. Ricardo Negri - com o apoio financeiro do projeto Pró-Guaíba/BID, saíram em uma viagem de campo atrás de sítios paleontológicos gaúchos que afloram rochas triássicas (período entre 245 e 205 milhões de anos atrás). Dentro da rota planejada para a viagem estava o afloramento informalmente denominado de “posto”, pois o mesmo se encontra na entrada da cidade de Dona Francisca, região central do Rio Grande do Sul, logo atrás de um posto de gasolina que beira a estrada.
FIGURA 1- Mapa do Brasil destacando o Estado do Rio Grande de Sul e a Região da Quarta colônia (em azul), com uma foto aérea da entrada da cidade de Dona Francisca aonde o fóssil foi encontrado (Localidade Posto de Gasolina).

Após algum tempo de caminhada pelo afloramento, de levanta e agacha pra ver se o que tem ali no chão é rocha, lixo ou fóssil, o Jorge encontra alguma coisa que parecia interessante: “Ana, achei uma coisa aqui que parece um crânio!!!”. Por ele ser um tanto brincalhão, ela duvidou logo de cara. Mas após ir até o local, ambos confirmaram se tratar de um crânio, e não pequeno (cerca de 30 cm de comprimento). Aí começava o que todo paleontólogo faz quando encontra alguma coisa: escavar em volta pra ver se tem mais fóssil preservado. E... não é que tinha!!! E não era pouca coisa não! Mesmo no campo, coberto por sedimento, com a terra meio úmida, logo os paleontólogos conseguiram identificar que o crânio estava conectado à um pescoço... e este à uma cintura pélvica (bacia)... e esta numa cauda... e este indivíduo quase completo estava com mais outros crânios e esqueletos!
FIGURA 2 – Foto do fossil encontrado ainda na localidade (acima, à esquerda) e uma reconstituição das partes preservadas dos esqueletos (abaixo, à esquerda). Esquema representativo da disposição dos esqueletos no campo (à direita; os números corresponde a quantidade de indivíduos preservados amontoados).

Se achar um pedacinho quebrado pra nós paleontólogos já é algo interessante, imagine o quão sensacional é achar um crânio e perceber que existe mais coisa ainda ali junto! Passado a euforia, vem a parte chata e braçal: tirar o fóssil do afloramento para levá-lo ao laboratório aonde será preparado e estudado. Querendo preservar o material como estava no campo para extrair mais dados de como os animais teriam morrido, eles fizeram um bloco gigantesco, cerca de 6 metros quadrados e pesando em torno de meia tonelada. Infelizmente, o bloco não agüentou... muito também por causa da chuva que acompanhava os paleontólogos durante a extração do bloco. Sendo assim, o material foi levado em partes para o Laboratório de Paleontologia da FZB. Lá, o Negri começou a montar as partes do bloco e preparar o material durante seis meses. Após isto, o material ficou por algum tempo sem ninguém estudá-lo ou prepará-lo.

A Pesquisa:
Em 2007, outras pessoas entram na história. Numa ligação para o Jorge, Max diz ter um aluno que tinha acabado o mestrado, Marco (no caso, eu), e ele precisava de algum material fóssil para fazer seu doutorado. Acordos feitos, Marco começa seus estudos com este material. Já possuía alguma experiência em preparação e julgou que seria fácil preparar este material. Ledo engano... Na primeira visita à capital gaúcha, já viu que o trabalho de preparação ia ser difícil: o material era envolto por uma concreção férrica muito dura. Como o material fóssil preservado é frágil, esta concreção em volta torna a preparação muito difícil e demorada. Imagine que você tenha que tirar o grafite de dentro de um lápis, mas ao invés de uma madeira mole e fácil de ser removida, este lápis esteja envolto por um material muito mais duro, como um tubo de PVC. Estilete, agulha, ponteira... nada disso sequer riscava a concreção. Começou-se a usar, então, canetas pneumáticas [http://www.paleotools.com/products.html]. O que é isto? São instrumentos muito parecidos com aquele motorzinho de dentista que se usa pra furar o dente e extrais a cárie, mas ao invés de movimentos rotatórios, as canetas que se usam na paleontologia realizam movimentos “pra frente e pra trás”. Mesmo assim, o material era difícil de ser preparado. Havia dias que após 8 horas de preparação, uma área “imensa” menor que uma moeda de um centavo era preparado!!! E não era só isso. Estas canetas pneumáticas possuem tamanhos e intensidades diferentes. Começou com uma de nível 1... ponteira quebrada. Nível 2... ponteira quebrada. Nível 3... ponta gasta em menos de um dia de trabalho. Nível 4, usado em materiais grandes, como fêmur de titanossauro... começou a funcionar. Só que as ponteiras duravam cerca de 15 dias e tinha o risco de quebrar todo o material por conta do alto impacto, isso sem dizer que cada ponteira desta custa cerca de 60 dólares!
            Durante três anos e meio, os fósseis iam sendo preparados e estudados concomitantemente. Até que no final do ano passado, com dados suficientes já em mão, os paleontólogos decidem publicar um artigo com os resultados deste trabalho (França et al., 2011). O material achado se tratava de 9 indivíduos amontoados uns sobres os outros, com três crânio bem preservados, e, à priori, todos pertencentes à uma nova espécie: Decuriasuchus quartacolonia.
FIGURA 3 – Crânios preservados de Decuriasuchus quartacolonia. Dois crânios foram preservados sobrepostos (acima) e o outro um pouco mais isolado (abaixo).

Os animais desta espécie eram carnívoros (possuíam dentes pontiagudos com margens serrilhadas), quadrúpedes e mediam cerca de 2,5 metros de comprimento.
FIGURA 4 – Reconstituição de Decuriasuchus quartacolonia.

Faziam parte um grupo chamado Rauisuchia. O que é isto? Hein?? Senta que lá vem a sistemática... Entre todos os animais vivos atualmente, aves e crocodilos são os mais aparentados entre si, formando um grupo denominado de Archosauria. Estes dois grupos atuais são somente um resquício da Biodiversidade do passado (clichê paleontológico! Hehehe). Os arcossauros se diversificaram durante o período triássico em duas grandes linhagens (Brusatte et al., 2010): uma pró-aviana, denominada de Ornithosuchia e da qual faz parte também os dinossauros (sim, ave é um dinossauro!!!); e outra pró-crocodiliana, denominada de Pseudosuchia e da qual faz parte vários grupos fósseis que se extinguiram no final do período triássico, sendo os crocodilomorfos os únicos sobreviventes. Destes grupos que se extinguiram estão os fitossauros (arcossauros aquáticos, com focinhos alongados), aetossauros (arcossauros encouraçados, possuindo placas ósseas de formatos diversos em suas costas), os ornitossuquídeos (arcossauros com crânios esquisitos, com a mandíbula reduzida em comprimento e a ponta do focinho voltada pra baixo) e os rauissúquios, ou Rauisuchia, do qual esta nova espécie faz parte.
FIGURA 5 – Cladograma representando o parentesco entre os grupos de Archosauria.

Este grupo era considerado até a década de 90 composto por grandes predadores topo de cadeia, quadrúpedes e que tinham morfologia distinta da bacia que permitia uma locomoção mais rápida. Entre os maiores da sua época nos ecossistemas terrestres, podiam medir até 9 metros de comprimento. Existe um crânio na UFRGS de aproximadamente um metro de comprimento, pertencente à espécie Prestosuchus chiniquensis (Barberena, 1978). Durante a década de 90, pesquisadores encontraram animais deste grupo que são bípedes, desprovidos de dentes e provavelmente portando bicos córneos, como nas tartarugas, como Effigia okeeffeae (Nesbitt & Norell, 2006) e Shuvosaurus inexpectatus (Chatterjee, 1993). Mais recentemente, há indícios fortes de que uma das espécies, Qianosuchus mixtus (Li et al., 2006), possuía hábito aquático. Ou seja, Rauisuchia representa um grupo muito mais diverso do que se aparentava até então.
FIGURA 6 – Exemplos de espécies de Rauisuchia, apresentando a diversidade de tamanho e hábitos.

Entre estas novidades está Decuriasuchus. Foram encontrados 10 indivíduos naquele afloramento no município de Dona Francisca, sendo que 9 deles estavam praticamente uns sobre os outros. Como seus esqueletos estão praticamente articulados, pode-se afirmar que eles estavam próximos uns dos outros antes de suas mortes, demonstrando um comportamento social mais desenvolvido do que se pensava: grandes répteis predadores tendem a viverem de forma mais isolada e não em “comunidade”. Este aglomeração de indivíduos pode ter causa e consequências diversas. Estudos apontam que aquela região no triássico era uma planície de inundação, com períodos de secas drásticas e outros de chuvas intensas (Da Rosa, 2005), o que pode ter servido de “refúgio” para estes animais.
FIGURA 7 – Imagem de uma planície de inundação atual com paisagem similar à considerada para a localidade aonde Decuriasuchus foi coletado.

É comum espécies de animais predadores de porte menor, caso do dinossauro Velociraptor, viverem em bando para defesa de predadores maiores ou ainda para caçar em bandos, o que poderia ter acontecido com Decuriasuchus. A verdade é que a resposta dos porquês destes indivíduos estarem juntos é pura especulação, mas é fato que eles viviam próximos uns dos outros. Paralelamente, outros aglomerados da mesma espécie em arcossauros, embora raros, são mais comum em dinossauros jurássico, sendo um comportamento social desenvolvido descrito em vários grupos de dinossauros. No período triássico, afloramentos possuindo vários indivíduos da mesma espécie são mais escassos, sendo descritos em dinossauro terópode Coelophysis bauri do novo México, EUA (Schwartz & Gillette, 1994), em dinossauro sauropodomorfo basal Plateosaurus da europa central (Sander, 1992), e no pseudossúquio Aetosaurus ferratus da Alemanha (Schoch, 2007). Todos estes são datados do Triássico Superior (Noriano-Rhaetiano, aproximadamente entre 220 e 205 milhões de anos atrás). As rochas do afloramento “posto”, aonde foram encontrados Decuriasuchus, são de aproximadamente 235-240 milhões de anos atrás, podendo-se dizer que esta nova espécie é o registro mais antigo de comportamento gregário em arcossauros.
FIGURA 8 – Exemplos de preservação com vários indivíduos em Archosauria. Acima, Aetosaurus ferratus, um Aetosauria (Pseudosuchia) do Triássico Superior da Alemanha; abaixo, Coleophysis bauri, um Dinosauria (Ornithosuchia) do Triássico superior dos Estados Unidos.

            Sobre o nome desta nova espécie, há algumas curiosidades. Decuria/suchus: o termo “decuria” faz referência à unidade do exército romano constituída por 10 soldados, como no caso dos 10 indivíduos achados no afloramento e também em referência à uma estrutura protuberante que existe no osso Nasal compartilhado por algumas espécies do grupo Rauisuchia que foi descrito por Romer (1971) como sendo o focinho tipo nariz romano; já “suchus” é um termo grego que se refere ao deus egípcio com cabeça de crocodilo, fazendo referência ao posicionamento da espécie na linhagem pró-crocodiliana. O nome específico “quartacolonia” refere-se à região no interior do estado do Rio Grande denominada de Quarta Colônia por ser a quarta região à abrigar os imigrantes italianos no século passado e da qual faz parte o município de Dona Francisca, aonde foram coletados os fósseis.

  
Citações Bibliográficas:

Barberena, M. C. 1978. A huge thecodont skull from the Triassic of Brazil. Pesquisas, 7, 111–129.
Brusatte S, Benton MJ, Desojo J, Langer MC (2010) The higher-level phylogeny of Archosauria (Tetrapoda: Diapsida). J Syst Paleontol 8:3–47.
Chatterjee, S. 1993. Shuvosaurus, a new theropod. National Geographic Research and Exploration, 9, 274–285.
Da Rosa AAS (2005) Paleoalterações de depósitos sedimentares de planícies aluviais do Triássico Médio a superior do sul do Brasil: caracterização, análise estratigráfica e preservação fossilífera. Tese de Doutorado. UNISINOS, São Leopoldo.
França MAG de, Ferigolo J, Langer MC (2011). Associated skeletons of a new middle Triassic "Rauisuchia" from Brazil. Naturwissenschaften 98 (5): 389–395. doi:10.1007/s00114-011-0782-3.
Li C, Wu X-C, Cheng Y-N, Sato T, Wang L (2006) An unusual archosaurian from the marine Triassic of China. Naturwissenschaften 93:200–206.
Nesbitt SJ, Norell MA (2006) Extreme convergence in the body plans of an early suchian (Archosauria) and ornithomimid dinosaurs (Theropoda). Proc R Soc B Biol Sci 273(1590):1045–1048.
Romer AS (1971) The Chañares (Argentina) Triassic reptile fauna. VIII. A fragmentary skull of a large thecodont, Luperosuchus fractus. Breviora 373:1–8.
Sander PM (1992) The Norian Plateosaurus bonebeds of central Europe and their taphonomy. Palaeogeogr Palaeoclimatol Palaeoecol 93:255–299.
Schoch RR (2007) Osteology of the small archosaur Aetosaurus from the Upper Triassic of Germany. Neues Jahrbuch für Geologie und Paläontologie. Abhandlungen 246(1):1–35.
Schwartz HL, Gillette DD (1994) Geology and taphonomy of the Coelophysis quarry, Upper Triassic Chinle Formation, Ghost Ranch, New Mexico. Journal of Palaentology 68:1118–1130.

Sobre o autor:



Marco Aurélio de Gallo França é paleontólogo brasileiro, focado atualmente em pesquisas com arcossauros basais, mas já trabalhou com outros grupos fósseis, como tartarugas e dinossauros. Está no doutorado na Bologia Comparada (FFCLRP-USP/Ribeirão Preto), com a orientação de Max Cardoso Langer. Gosta de cerveja, principalmente acompanhada de bons amigos. Para aliviar a tensão, nas horas vagas dedica-se ao samba e a MPB, mas como hobby. Lattes.




quinta-feira, 26 de maio de 2011

Por aí...



O curso ‘Botânica no Inverno’ é uma iniciativa dos alunos de pós-graduação do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), destinado a alunos de graduação e recém-graduados que tenham interesse em Botânica, podendo ser provenientes de instituições voltadas as diversas áreas do conhecimento.


Mais informações: http://botanicanoinverno.ib.usp.br/

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Na mídia

Agência Fapesp divulga:


Especiais

Coleções dispersas

Em carta publicada na Nature, biólogos da USP de Ribeirão Preto defendem institucionalização de coleções biológicas. Com apoio da FAPESP para organizar seu acervo, eles projetam novo Museu da Biodiversidade (Foto: Australian Museum)
02/05/2011
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – As coleções biológicas existentes nas universidades, em geral, não estão incluídas no orçamento permanente das instituições. Por conta disso, as limitações de recursos financeiros ameaçam esses acervos de importância capital para o avanço do conhecimento sobre a biodiversidade.
Essa preocupação foi levantada por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), em uma carta publicada na edição de 21 de abril da revista Nature.
Na carta, Flávio Bockmann, do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP, e colegas anunciam que estão reunindo suas coleções dispersas em diversos laboratórios para formar um Museu da Biodiversidade. A iniciativa teve apoio da FAPESP a partir de um projeto selecionado naChamada de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa – Centros Depositários de Informações, Documentos e/ou Coleções Biológicas .
Segundo os autores do texto, as universidades com coleções científicas bem estruturadas fornecem um ambiente muito rico para o treinamento de biólogos que, posteriormente, serão os responsáveis por lidar com as questões mais prementes relacionadas à conservação da biodiversidade.
Bockmann conta que o imenso volume de material biológico armazenado em inúmeras outras universidades brasileiras está aumentando exponencialmente à medida que avança a expansão da educação superior no país.
“É fundamental que outras universidades brasileiras tomem iniciativas semelhantes, consolidando suas coleções e coordenando esforços na pesquisa sobre a biodiversidade para contribuir com as políticas de conservação e gestão”, disse à Agência FAPESP.
Bockmann destaca que geralmente os grandes museus têm origem em coleções científicas que, no início, são acumuladas por pesquisadores nas universidades. Mas, para que se transformem em museu, é preciso que haja investimento que possibilite a sua institucionalização. Caso contrário, o material permanece disperso e muitas vezes só não se perde por esforço dos próprios pesquisadores.
“Hoje, acumulamos um volume muito grande de material científico em coleções que estão em diferentes graus de conservação e manutenção. O problema é que a responsabilidade por esses acervos não está definida nos regimentos das universidades”, explicou.
O problema das coleções biológicas, segundo Bockmann, tem escala mundial. Isso motivou o grupo de pesquisadores a divulgar a iniciativa do Museu de Biodiversidade na Nature. No Brasil, o problema se acentua ainda mais, já que o país detém a maior biodiversidade do mundo.
“Temos grandes coleções espalhadas por universidades de todo o país, muitas vezes sem os devidos cuidados. Além disso, atualmente qualquer estudo de avaliação ambiental no país exige que todo o material coletado seja tombado em coleções científicas. No nosso caso, recebemos material biológico continuamente e a tendência é que o acervo cresça exponencialmente”, afirmou.
Segundo Bockmann, o apoio financeiro da FAPESP permitiu que a FFCLRP-USP desse início ao processo de institucionalização e organização de suas coleções. “A iniciativa da FAPESP de lançar uma chamada especificamente voltada para a gestão de coleções biológicas é exemplar. Nossa expectativa é que o projeto do museu crie um efeito multiplicador, incentivando outras iniciativas semelhantes”, disse.
A manutenção das coleções, segundo Bockmann, exige investimentos de caráter organizacional – incluindo a compra de servidores e a implantação de softwares gestores dos acervos –, além de recursos para a estrutura física.
“Estamos utilizando os recursos, por exemplo, para montar a infraestrutura de armazenamento, incluindo estantes compactadoras modulares e para adquirir um equipamento de raio X digital, muito utilizado na área de vertebrados. Trata-se de uma verba relativamente modesta em relação aos enormes resultados que poderá trazer”, afirmou.
De acordo com o pesquisador, a previsão é que sejam investidos R$ 20 milhões para que a primeira parte do museu seja completada e se torne plenamente operacional. O orçamento total está estimado em R$ 70 milhões.
As coleções da FFCLRP-USP, segundo Bockmann, incluem, por exemplo, um vasto herbário e um importante acervo de peixes, répteis, crustáceos, de paleontologia e de entomologia, além da maior coleção do mundo de abelhas neotropicais sem ferrão. “São mais de dez coleções. Nossa estimativa é que o acervo tenha, no momento, mais de 600 mil exemplares. Mas esse número cresce continuamente”, disse.
Essas coleções, segundo Bockmann, formarão a base para o acervo expositivo do museu. “Essa é uma parte importante do projeto, porque não queremos que o museu seja apenas um pretexto para guardar as coleções para pesquisa. Queremos consolidar um ambiente de pesquisa de alto padrão sobre a biodiversidade e fazer uma exposição pública de nível internacional sobre o tema. O objetivo é ambicioso: queremos um museu que seja um polo de atração em âmbito nacional e não apenas regional”, afirmou.
Mais informações: www.nature.com