terça-feira, 2 de março de 2010

Ciência, divulgação e espaços



Por Rafaela L. Falaschi


"Entramos numa corrida entre a educação e a catástrofe"
H.G. Wells


       Bem disse o doutor em Física Francisco Caruso: “Há muito tempo, a educação deixou de ser entendida como instrumento indispensável na formação do cidadão e vem sendo praticada como mero treinamento”.
        Bom, comecemos nossa incursão com um texto sobre divulgação, o objetivo primeiro desse espaço.
       Vamos partir do que o dicionário nos diz: Divulgar (do latim divulgare) é tornar público ou notório; publicar; propagar, difundir, vulgarizar, assim Divulgação é a ação de divulgar; vulgarização, propagação, difusão. Sabendo o significado de tais termos, vamos pensar como e onde aplicá-los.
       Diversos são os veículos de divulgação. Através deles, nós colocamos nossas idéias, opiniões, interesses, propagandas, atividades e as mais diversas informações. Compartilhamos.
        Mas devemos nos restringir a algum espaço? Diários, passatempo, álbuns de fotos, portfólios, meios de comunicação para alcançar alguém que está longe, núcleos de interação, fóruns, fontes de informação...? Ou devemos tentar abranger toda a diversidade social que existe em nosso mundo? E todas essas pessoas que não se encontram dentro das dependências físicas ou intelectuais da nossa Universidade/Escola? Devem compartilhar conosco? E nós devemos compartilhar com eles? Se sim, o quê compartilhar? E compartilhando, que abordagens e linguagem usar?
       São muitas perguntas a serem respondidas, todas intrinsecamente relacionadas. Algumas, ou quase todas elas sem uma resposta consensual. O objetivo aqui não é as respostas serem apresentadas, num simples e direto sim ou não. Mas questões a serem colocadas, pensadas, refletidas e as respostas surgirem ao longo das vivências de cada um, nas suas vidas pessoais e profissionais. Ao longo dos meus escritos as minhas respostas serão reveladas, mesmo que discretamente, o que não significa que estas sejam as corretas.
       Aqui (um sítio, um jornal escolar/universitário, um fanzine, etc) pode ser um local a ser dado o primeiro passo. E pode ser adiante um meio para além de divulgar idéias, experiências, vivências, oportunidades, repensar as mesmas, acrescentar pontos e talvez, quem sabe, mudar algumas percepções.
Antes de divulgar idéias e qualquer tipo de conhecimento devemos pensar o debate. Debate, que é troca de idéias em que se alegam razões prós ou contras, com vistas a uma conclusão. Não é mudar a idéia/opinião dos outros, é trocar informações a fim de que possamos construir nossas próprias opiniões e idéias, ou apenas confirmá-las ou até mesmo mudá-las. O debate enriquece o nosso conhecimento e nossa argumentação. Ele não é uma disputa a ser vencida. Ele não é o meio para se chegar ao que é certo ou errado.
       Voltaire parecia estar oferecendo as armas quando dizia "defina bem seus termos antes da discussão”. E não é? Em algumas das discussões decorridas ao longo da minha jornada acadêmica, notei que infelizmente por conta de problemas com definições de termos e por vezes também de um parco conhecimento de regras básicas de escrita, algumas boas discussões se perderam e ao invés de esclarecer pontos aos participantes, trouxeram mais turbidez ao que já era turvo. E isso acontece muito, não só dentro como fora do universo acadêmico e vem ganhando espaço na mídia, em especial com o advento da internet e todos os seus espaços públicos.
       Vejamos a questão do idioma. O Português do Brasil é uma língua muito rica, híbrida cheia de meandros. O que requer mais ainda de nós quando vamos escrever e divulgar idéias através do papel. Quanta confusão não traz um termo mal definido, um verbo mal conjugado, uma vírgula mal colocada, uma preposição trocada por uma conjunção e assim por diante? São coisas 'pequenas', mas que devem ser atentadas no momento de compartilhar os saberes, seja com pessoas do nosso círculo e ainda mais, quando vamos divulgar à diversidade de pessoas que compõem a sociedade. Pois o leitor não lê nossas mentes onde habitam nossas idéias, mas lê o papel, a página do site, coisas concretas e que podem facilmente se perpetuar.
        Divulgar para quê e para quem? Acho um questionamento importante para nos fazermos. Todos nós.
Aqui, nesse espaço, divulgar o quê? Ciência? Mas primeiro: o que é Ciência? Richard Lewontin, biólogo americano, num de seus inúmeros textos, apresenta a ciência como uma instituição social, a qual afeta e é afetada, ativamente, por uma série de elementos da sociedade (economia e política, por exemplo). E essa é apenas uma das concepções acerca de ciência.
       Acho um interessante ponto de partida que sejam levantadas mais essas questões. Não importa o grau de formação. Iniciar discussões e debates num espaço aberto e livre como este é um começo importante. Onde vai parar? Não sabemos... Esperamos que longe, bem longe... E que cada vez mais envolva mais pessoas e mais questionamentos, com ou sem respostas prontas e finais.

“É tempo, portanto, que os cientistas saiam de seus laboratórios e "percam tempo" contribuindo para divulgar a Ciência, para discutir o ensino de Ciências e, porque não, contribuir para a alfabetização científica”. (Francisco Caruso)

Para ler:

Biologia como ideologia - a doutrina do DNA, Richard C. Lewontin, FUNPEC Editora, 2001.

O que é Ciência afinal?, Alan F. Chalmers, Editora Brasiliense, 1993.

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